sexta-feira, 22 de maio de 2009

Batom vermelho, uma cama e dois copos de uísque...

Ele estava sentado na cama – nu. Ao seu lado, dois copos de uísque; no ar, um cheiro de perfume barato. Seu corpo arranhado entregava o que havia acontecido... Sua acompanhante estava parada em sua frente, os cabelos ruivos emolduravam-lhe a face alva, a sobrancelha delineada destacava os profundos olhos verdes; passando a mão nos cabelos emaranhados dele, começou a vestir-se.



O batom vermelho há muito havia deixado-lhe os lábios; pequenas escoriações marcavam a parte interna de suas coxas – nada que sua meia-calça azul não pudesse esconder. Ele continuou lá, sentado – simplesmente encarando as coisas acontecerem, como se aquele momento sequer lhe pertencesse.

Ela se arrumou, passou uma pela camada de batom nos lábios, pegou seu copo de uísque e partiu. Ela havia terminado sua parte – fora paga, fez o que tinha que fazer e agora estava indo embora.



E ele ainda estava lá, encarando a parede encardida, vendo a vida passar diante de seus olhos...

Ultrarromantismo

- Não vês tu que é tudo fruto de vossa ganância insaciável? Vede, o vinho já está consumado, tal qual o fogo da vida que queima com o furor e a ferocidade de mil sóis, destruindo todos que estão à sua volta.



-Oh! Quão voluptuosos desejos carnais saltam de vossos lábios carnudos. Com tanta ânsia aguardei por tua presença; Sabeis o que é morrer de inanição? Não, pois lo explico – meu corpo era alimentado e saciado a todos os momentos, mas minh’alma clamava por ser saciada e alimentada. E somente tu, meu Romeu, poderia fazê-lo.



Tomando-a nos braços, fê-la mulher, tal qual nunca fora antes. E o rubor tomou conta daqueles seres intrínsecos. Duas almas, um só corpo – que buscavam, tão-somente, o gozo fervoroso. Alcançar o êxtase de vidas passadas e futuras; por toda a monotonia que ainda havia de passar por tais corpos.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Nostalgia

Percebi, essa semana, que repetidas (lê-se duas) vezes escrevi sobre cigarros, e reparei que é um tópico que me atrai inconscientemente. E para não virar um clichê, ou uma charlatã, vou mudar o meu foco.

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"Pra frente. Pra trás. Pra frente. Pra trás." O movimento era constante, mesmo depois de tantos anos aquele balanço ainda permanecia fiel à sua função divina. A jovem que estava ali buscava a sua inocência perdida há tempos. A alegria no ohar, como se estivesse vendo tudo pela primeira vez; o abraço caloroso da sua mãe já falecida; o doce e singelo aroma de flores provenientes da mesa do café...

Coisas simples, que deixamos para trás.

Nostalgia e tristeza assolaram aquele frágil corpo naquele instante, e ela chorou...

sábado, 2 de maio de 2009

Alguns Cigarros e uns Pares de Chanel

Acendi um cigarro, traguei-o por um instante, bebi um gole de whisky e soltei a fumaça. Repeti o ritual algumas vezes até murmurar um "Boa Noite" ao barman e sair para a noite fria. Estava sozinha, era tarde. O relógio marcava 01:07 da manhã, a lua cheia brilhava no firmamento. "Nada mais romântico do que a lua cheia", pensei enquanto puxava outro cigarro da carteira e sentava-me em um dos bancos da pracinha. O tempo já não significava nada pra mim; as horas eram vagas e os dias longos, fúteis. Nada útil a se fazer; as companhias de antes já não eram tão agradáveis, o relacionamento com os pais já havia evapporado e a vida amorosa estava na merda. Eu era uma pessoa fodida, por assim dizer. Tinha meu apê e minha moto, fumava meus cigarrinhos, enchia a cara sozinha e desfilava pelas ruas os meus sapatos Chanel. Mas não era feliz... Na minah face um sorriso falso se esboçava e sumia; não havia nada no mundo capaz de me fazer feliz. Nada - a minha convicção disso era tão grande que eu me afastava das outras pessoas; criava um imenso abismo entre mim e o resto da humanidade. Traguei o cigarro e junto com a fumaça que exalei, deixei ir embora também minha esperança. Agora, só me restava a solidão.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Vidas Interrompidas

Uma garota se apressava para sair de casa, passou a língua úmida nos lábios, ajeitou a saia preta e o cachecol verde no pescoço. Sua imagem refletida no espelho era sensual sem ser vulgar. - "Tudo ótimo", pensou ela. "Nada como sair a noite com uns amigos...". Apertou o botão para atravessar a rua movimentada, olhou o farol fechado e segue seu caminho. Viu uma luz forte e depois... Trevas. Hora do óbito: 02:14 am.

Um rapaz briga com a namorada na porta de casa, pega o carro e sai voando até um bar. Enche a cara: whisky, vodca, caipirinha, espanhola... Tudo! Não quer saber; quer esquecer os problemas, a namorada, os pais, a faculdade. Deseja uma nova vida. Totalmente bêbado, discute com um grupo de skinheads que entrou no bar. Xinga a mãe de um e de outro, mostra o dedo umas quatro vezes, manda todos tomar no cú e diz: "Que se foda! Minha vida já é uma merda mesmo..." Pega a pistola que estava com um dos skinheads e dá um único tiro na cabeça. Hora do óbito: 05:17 am.

Um dignissímo senhor acorda com interfone tocando. "Sua pizza chegou", diz o rapaz da portaria que só está fazendo seu trabalho. "Seu filho da puta, isso é hora de me ligar?", puzando o fio da parece e lançando o aparelho longe, volta pra sua cama. O motoboy, nervoso com a viagem desperdiçada segeu seu rumo de volta à pizzaria. Cruza dois ou três faróis vermelhos, passa na frente de um bar cheio de skinheads discutindo com um bêbado; dá risada da cena e agradece por não ser assim. Distraído, não vê uma moça atravessar a rua, tenta frear e não consegue. Atropela-a e saí de lá em coma. Após passar algumas horas no hospital, morre. Hora do óbito: 13:02 pm.