sábado, 7 de março de 2009

Buraco-Negro e Uns Cigarros

Sobre a cama, um ser imóvel; na escrivaninha, o abajur fraquejava em sua luz, ao seu lado, um bilhete rabiscado. Caligrafia fina. Anônimo.

Levantou-se apressada – estava tarde -, o sol ia alto, mas não estava calor. O vento soprava, fazendo com que seus cabelos bailassem a mercê de sua vontade.

O crepitar das velas iluminava o corredor, que levava às masmorras. Lá embaixo, toda a luz e felicidade eram sugadas por um buraco-negro maldito. Nada sobrevivia ali por muito tempo, sua tendência inóspita era, concomitantemente, magnífica e estranha.

Às vezes era possível perceber o ponto em que todos os diálogos se tornavam monólogos; onde todas as pessoas desejavam não estar.

Um abismo infindável separava aquele local do resto do mundo: era irreal. As cores mortas e corroídas pelo tempo; o pesar e o ranger quase tangíveis na obscuridade.

Ela acendeu um, dois, três cigarros. Repousado na mão direita, um pequeno diamante brilhava, refletindo a luz fraca que provinha do cigarro. A ponta queimava, a fumaça que dominava o ar se tornava densa. Dez, quinze, vinte, - um atrás do outro.

A monotonia da vida era crescente; os dias passavam sem motivo algum, - e a Felicidade se esvaia.

Os temores de toda uma vida saltavam do subconsciente; pessoas que falavam o que “não queriam” falar – mentira.

E mais uma vez, submergiam nessa realidade amaldiçoada com pensamentos vãos, palavras não ditas e fumaça de cigarros.

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